No campo, o atual período era para ser de muito movimento de máquinas, na semeadura da safra de verão 2020/21. No entanto, quem viaja pelas estradas da região de Maringá (PR), como fez a equipe do Rally Cocamar de Produtividade na segunda-feira (05/10), só vê uma palhada que restou da colheita do milho de inverno. Os produtores aguardam pelas chuvas para começar os trabalhos.
Teoricamente, os produtores dessa região estão autorizados a semear desde o dia 10 de setembro – data em que terminou o Vazio Sanitário da Soja, um intervalo de três meses em que plantas remanescentes da oleaginosa em campos e beiras de estradas devem ser eliminadas para evitar a propagação da ferrugem asiática, uma das piores doenças da cultura.
“A soja gosta de calor e umidade”, lembra José Carlos Nicodemo, que cultiva 108,9 hectares em São Jorge do Ivaí. Calor tem até demais, diz ele, mas vai ser preciso cair muita água para destravar a semeadura, “pouca chuva não resolve nada”. Para ele o atraso ainda não é motivo de grande preocupação, pois normalmente começa a semear entre os dias 4 e 5 de outubro. Um ano nunca é igual ao outro, mas Nicodemo bem que gostaria de, pelo menos, repetir em 2021 o desempenho das safras de soja e milho que colheu em 2020, respectivamente de 65,7 e 117,7 sacas/hectare.
As sementes ainda nem foram depositadas no solo e os produtores de São Jorge do Ivaí já fizeram a venda antecipada de 35% de suas colheitas, aproveitando boas oportunidades de preços. Segundo o gerente da unidade local da Cocamar, Bernélio José Orsini, muitos travaram os seus custos, caso de Valmir Sala, que produz em 217,8 hectares e já negociou 20% do volume que espera colher.
Mesmo com todo o atraso, a janela para semear soja ainda vai longe, pelo menos até a primeira quinzena de novembro ou um pouco mais. E, para o milho, o Zoneamento Agrícola de Risco Climático, do Ministério da Agricultura, estendeu o calendário de 10 para o dia 31 daquele mês.
Em Doutor Camargo, onde cerca de 50% dos produtores são arrendatários e grande parte da renda vem do milho, de 30% a 40% da safra de verão já estariam semeados se o tempo estivesse ajudando. “Os trabalhos vão ficar muito concentrados, o que já sinaliza para uma concentração na colheita”, observa o gerente da unidade da cooperativa, Carlos Bortot, que também responde por Paiçandu.
Em Paiçandu, em paralelo à preocupação com a estiagem e o atraso na semeadura, os produtores querem saber se a duplicação da rodovia PR-323, em andamento, não vai trazer dificuldades para acessar a estrutura da Cocamar. “O certo é ter um acesso em nível, se precisar ir até o próximo viaduto para retornar, vai ficar muito longe”, justifica o gerente Bortot. A Cocamar está mantendo contatos com o governador Ratinho Júnior, em busca de uma solução.
No município de Floraí, como é tradição, a soja começaria a ser semeada a partir de 25 de setembro e, a esta altura, algo em torno de 10% estariam concluídos. “Por falta de umidade, ainda nem deu para fazer uma boa dessecação”, comenta o engenheiro agrônomo Valdecir Gasparetto, da unidade da Cocamar. Uma das ervas mais preocupantes, a buva, está rebrotando, o que ainda vai obrigar o produtor a fazer o controle antes de semear a soja.
A palhada de braquiária, que reveste o solo, é uma das principais estratégias adotadas pelos produtores de Ourizona para inibir o desenvolvimento das ervas. “Temos uma área boa de braquiária por aqui, oriunda do consórcio com milho ou plantada solteira”, explica o técnico Claudemir Marinoci, da cooperativa.
Para começar a semeadura, segundo ele, vão ser precisos de 40 a 50 milímetros de chuva. “Depois, tem que torcer para continuar chovendo periodicamente”, acrescenta o técnico, assinalando que com o bom ano de 2020 os produtores, de uma forma geral, se encorajaram mais a investir em melhores tecnologias. Na safra 2019/20, a média geral foi de 60,3 sacas por hectare, acima do histórico de 53,7 sacas de média dos últimos cinco anos.
Durante o Fórum de Mercado promovido pelo sistema Ocepar na última quinta-feira, um dos convidados, o meteorologista Luiz Renato Lazinski traduziu a realidade mostrada pelos mapas meteorológicos: na prática, o La Niña, mesmo de intensidade fraca a moderada, está influenciando o clima desde o início do mês de setembro e isto deve perdurar até maio de 2021. O fenômeno, decorrente do esfriamento das águas do Oceano Pacífico, reduz a regularidade e o volume das chuvas.
De acordo com o meteorologista, o Paraná, como outras regiões do país, ainda está sob o efeito do que se denomina neutralidade climática desde setembro de 2019, o que explica a ocorrência de precipitação mais espaçada e abaixo da média.
No entanto, há previsão de chuva a partir do próximo final de semana “O problema é que, devido à irregularidade dessas ocorrências, é difícil a manutenção da umidade do solo”, pondera Lazinski.
O Rally é realizado pelo sexto ano consecutivo, do pré-plantio à colheita da soja. Patrocinam esta edição: Fairfax Brasil Seguros Corporativos, Viridian Fertilizantes, Sicredi União PR/SP, Basf e Zacarias Chevrolet (principais), Texaco Lubrificantes, Estratégia Ambiental, Cocamar Máquinas, Cocamar Irrigação, Nutrição Cocamar e Zoetis (institucionais), com o apoio do Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), Aprosoja-PR e cooperativa de serviços de agronomia Unicampo.
(Imprensa Cocamar) Quarta, 07 Outubro 2020 07:53