“Esta paixão é de longa de data. São mais de 30 anos dedicados ao cooperativismo. E tenham certeza de que começaria tudo novamente porque acredito na cooperação como um modelo justo e democrático de organização econômica. Se trocarmos a competição pela cooperação, podemos ir muito mais longe”. Com esta afirmação, o presidente do Sistema Ocepar, José Roberto Ricken, iniciou sua participação no Encontro com Agentes das Cooperativas Paranaenses, realizado virtualmente na tarde desta segunda-feira (15/06). A live foi mediada pelo coordenador de Desenvolvimento Cooperativo do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo do Paraná (Sescoop/PR), Leandro Macioski, e contou com 73 participantes. A participação do presidente do Sistema Ocepar teve por finalidade destacar a contribuição das cooperativas paranaenses em tempos de pandemia.
Grandes mestres – Ao contar sua trajetória no cooperativismo, iniciada quando cursava o Colégio Agrícola, em Guarapuava, Ricken destacou o aprendizado que teve com cooperativistas como Guntolf van Kaick, Benjamin Hammerschmidt, João Paulo Kosloviski, entre outros líderes que ajudaram a construir a história do cooperativismo paranaense. “Foram meus grandes professores. A missão que tenho na presidência do Sistema Ocepar é dar continuidade ao trabalho deles. Não substituí ninguém e não assumi a presidência para promover grandes mudanças. O cooperativismo do Paraná tem um modelo de organização, adotado há quase 50 anos, e que se baseia em planejamento e monitoramento. Com base nessas premissas, as entidades que estão à frente da sua representação, que é a Ocepar, o Sescoop e a Fecoopar, trabalham em total sintonia. Esta é a receita para que o Sistema Ocepar desempenhe bem o seu papel, que é ser um agente aglutinador e promotor do desenvolvimento das cooperativas do estado”, disse
Gerar renda – Ouvir aqueles que participaram da construção da história do cooperativismo do Paraná é entender os fatos que levaram a adoção desse sistema no estado e os motivos que fazem dele sinônimo de desenvolvimento econômico e social. “O objetivo, desde o início, foi ajudar a organizar algumas atividades econômicas e promover a geração de renda. Se tiver renda, a pessoa não precisa da ajuda do estado, pode mantar sua família sozinha e com qualidade de vida. A partir dessa premissa, o cooperativismo se fortaleceu”, afirma Ricken. Passados quase cinco décadas desde que foi constituída a primeira cooperativa, o Paraná possui 216 cooperativas em pleno funcionamento, divididas em sete ramos de atuação e que, juntas, faturam R$ 87,2 bilhões e congregam 2,2 milhões de pessoas, quase 20% da população paranaense.
Um sistema complexo – O cooperativismo do Paraná deu seus primeiros passos com o objetivo de oferecer aos agricultores uma oportunidade de melhor comercialização da produção agrícola. A realidade do passado – menor número de associados, empreendimentos pequenos, tecnologia limitada e atuação focada no ramo agropecuário -, deu lugar a um cooperativismo pluralizado, heterogêneo, com presença internacional, e com diferenças de tamanho e atividades produtivas. Some-se a este contexto, a complexidade natural de uma cooperativa, na qual o cooperado pode ser, ao mesmo tempo, fornecedor, comprador e prestador de serviços, o que não raro gera conflitos de interesses que devem ser controlados pelos gestores. “Cabe ao Sistema Ocepar ajudar as cooperativas a darem conta dessa gama de fatores, se perder de foco a necessidade de manter os princípios que definem a identidade da cooperativa, ter agilidade e transparência nas decisões, oferecer valor ao cooperado, e, ainda, garantir a perenidade do empreendimento. O Sistema Ocepar também conduz uma série de ações voltadas à governança e gestão, formação profissional, monitoramento, fidelização do quadro social e inovação, visando garantir a sustentabilidade das cooperativas. Não é uma tarefa simples. Mas felizmente, penso que estamos cumprindo nosso papel”, destacou.
Momentos de dificuldades – O cooperativismo do Paraná chegou até aqui superando desafios.Um tempo difícil foi vivido no final da década de 80 e decorrer da década de 90, período em que o cooperativismo agropecuário vivenciou uma crise estrutural intensa, em função de mudanças significativas nas políticas de crédito subsidiado. Primeiramente, todo mecanismo de crédito rural criado na década de 60 foi desmontado durante os anos 80. Os créditos de investimento e custeio entraram em colapso já em 1979/80. Por volta de 1984 teve início a redução gradativa das taxas de juros subsidiadas, passando a enfatizar os créditos para comercialização, através da Política dos Preços Mínimos (PMPG). A crise do crédito rural atingiu seu auge em 1989. O problema maior desta mudança de direção foi que com os diversos planos de estabilização, subestimava-se a correção dos preços mínimos com o objetivo de tentar controlar a inflação, enquanto as taxas de juros se elevavam. Desta forma os produtores/cooperados aumentavam seu endividamento, e o seu produto não era valorizado na mesma velocidade. Isto trouxe aumento significativo no grau de inadimplência perante as cooperativas, que seguiam para inviabilidade plena.
O nascimento do Sescoop – Para ajudar o setor a superar tais dificuldades, houve a proposta de criação do Recoop (Programa de Apoio à Recapitalização das Cooperativas Agropecuárias) e do Sescoop, a entidade do Sistema S do cooperativismo. A proposta do Sescoop surgiu por dois motivos: porque para ter acesso ao Recoop, as cooperativas precisavam passar por um processo de organização e porque, mesmo contribuindo para o Sistema S, não havia contrapartida, ou seja, as cooperativas não podiam se beneficiar do que era oferecido. “Pedimos ajuda aos outros S para que as cooperativas pudessem ter recursos para implantar o projeto de organização e não tivemos apoio. Foi daí que surgiu a ideia de criar o nosso próprio S. Volto a lembrar que tal proposta foi feita pela Ocepar, ou seja, a experiência do cooperativismo do Paraná foi a semente que originou o Sescoop”, contou.
O papel do agente – Segundo o presidente do Sistema Ocepar, uma iniciativa que deu certo, no âmbito do Sescoop/PR, foi a criação do papel do agente de cooperativismo. “Não tínhamos como montar uma equipe grande do Sescoop/PR, afinal, o nosso S estava nascendo. Solicitamos, então, que as cooperativas designassem dois profissionais – monitoramento e treinamento – para ajudar no planejamento das ações do Sescoop e também para viabilizar a ação na base. Isto também garante que tenhamos um planejamento realista das necessidades das cooperativas. Esta forma de trabalho funciona até hoje e é referência em todo o Brasil. Eu não saberia como fazer o Sescoop/PR funcionar de outra forma, por isso temos um orgulho danado dos agentes”, afirmou.
Planejamento – “A Ocepar surgiu de um planejamento. Se tiver uma diferença apenas do cooperativismo do Paraná é que aqui desde o início houve um planejamento, uma definição de rumo”, completou o presidente do Sistema Ocepar. O dirigente conta que o planejamento conjunto do setor é renovado a cada cinco anos. “Mas em 2015 foi feita uma mudança na metodologia. Inserimos uma meta que de dobrar o faturamento, que naquele ano atingiu R$ 50 bilhões. Foi a partir disso que surgiu o PRC 100, o planejamento estratégico do cooperativismo paranaense. Nossa estimativa, e se tudo correr bem, é chegar aos R$ 100 bilhões ainda neste ano. Para um efeito de comparação, esse montante representa duas vezes o orçamento do Governo do Paraná. A ideia é, no próximo semestre, rever o planejamento, redefinir a meta. Mas serão as cooperativas que vão dizer o que elas querem. Ou seja, a somatória dos planejamentos individuais de cada cooperativa é que vai definir a nova meta de faturamento. Vamos fazer isso juntos. Esse é o desafio, porque é essa força que nos vai levar para frente”.
O novo normal – Para encerrar sua participação, Ricken falou sobre como as cooperativas estão atuando diante da pandemia, lembrando que é nos momentos de dificuldades que surgem as maiores oportunidades. “Nós realizamos atividades essenciais, então, o cooperativismo não pode parar. Fazemos isso não porque queremos, mas porque não podemos. É preciso garantir o abastecimento de alimentos, bem como o acesso ao crédito e à saúde. Imagine como seria um cenário em que as pessoas estão doentes e com fome. Seria um caos”, frisou. Por outro lado, completa o dirigente, o cooperativismo nunca teve tanto reconhecimento como agora, e muito disso se dá pelos ideais que norteiam o movimento, de cooperação e ajuda mútua. “Temos uma responsabilidade muito grande até mesmo na educação as pessoas. Para nós não existe o eles e o nós, direita ou esquerda. Isso não combina conosco. Temos que somar para buscar o desenvolvimento em conjunto. Também já não faz sentido falar em urbano e rural. É o desenvolvimento regional que vale. Dividir é um atraso, não constrói. Não é hora de ficar brigando. Essa é a mensagem do cooperativismo. Este é o exemplo que temos que dar”, disse.
Fonte: OCEPAR Terça, 16 Junho 2020 11:26