Além de serem bonitos e curiosos, os origamis carregam significados especiais para quem os confecciona. Lina Saheki, 36 anos, já sabia fazer origamis, a arte de dobrar papéis em forma de animais, flores e objetos, mas descobriu o verdadeiro sentido da prática em um leito de hospital. Ela é descendente de japoneses, mestra em Direito Constitucional e especialista em Bioética, mas deixou todos os títulos de lado para compartilhar com todos o que mais ama: trabalhar com a cultura japonesa. A língua e o origami têm significados especiais na vida dela, que, por pouco, não conseguiu contar a sua própria história. Enquanto fazia doutorado em Direito, em Madri, na Espanha, em 2004, Lina descobriu que tinha uma inflamação aguda no miocárdio (músculo do coração), causada por um vírus.
O problema, hoje controlado, colocou sua vida de cabeça para baixo e transformou seus projetos por completo. Ainda no hospital espanhol, onde permaneceu por 46 dias, sem saber como retribuir ao apoio dos médicos, enfermeiros e familiares, ela descobriu no origami uma forma de agradecimento. Com lágrimas nos olhos, Lina lembra quando uma dobradura representava muito mais que a própria figura simulada. E também do momento em que optou pela fundação do Centro Cultural Tomodachi, em Curitiba, onde leciona língua japonesa, faz oficinas de origami e oferece outras aulas sobre a cultura oriental.
“Eu revi tudo. Não podia fazer muita coisa, pois estava de cama. Então fazia origamis e os dava para os médicos e enfermeiros”, conta. Lina colocou a esperança de uma nova vida nos ensinamentos da cultura japonesa e nos origamis, repetindo uma história que se tornou mundialmente conhecida.
Esperança
Estudiosos dizem que o origami teve origem na China, mas é fato que ele se popularizou após a 2.ª Guerra Mundial, pela vida da menina Sadako Sasaki. Vítima da radioatividade emitida pela explosão nuclear em Hiroshima, no Japão, quando tinha apenas 2 anos, a criança lutou durante algum tempo contra a leucemia. Quando chegou aos 12 anos, segundo a coordenadora do Memorial da Migração Japonesa em Curitiba, Ruth Sato, Sadako descobriu que, segundo uma lenda, quem fizesse mil tsurus (a garça no origami) poderia ter um desejo realizado. Pedindo para que fosse curada da leucemia, a adolescente começou a dobrar.
Ao chegar aos 800 tsurus, Sadako não resistiu à doença. A solidariedade dos amigos de escola da jovem deu início a uma saga. Quando souberam da morte da amiga, eles iniciaram um mutirão para terminar os mil tsurus. O pedido era outro agora: a paz mundial. Em 1958, Sadako recebeu outra homenagem, o Monumento das Crianças à Paz, uma estátua da jovem.

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