Obra da Arena da Copa, em Pernambuco, chama atenção pela quantidade de mulheres envolvidas. Pernambuco – “Meta dada é meta cumprida.” O lema da engenheira civil Ayla Souza, 25 anos, pode ser estendido para toda a equipe feminina que lidera os trabalhos das obras da Arena Pernambuco, estádio multiuso com capacidade para 46 mil pessoas que está sendo construído no município metropolitano de São Lourenço da Mata, a 19 quilômetros do Recife. A arena será um dos palcos da Copa 2014, com cinco partidas.
“Estou morando aqui”, diz a engenheira, responsável pelos pré-moldados e centrais de concreto. Ela tem trabalhado de domingo a domingo, em ritmo acelerado, especialmente depois que a Fifa escolheu o estádio como uma espécie de plano B para Copa das Confederações, em 2013, caso alguma das quatro sedes definidas (Rio, Brasília, Belo Horizonte e Fortaleza) tenha problema. Para entregar o estádio no novo prazo, todo o processo de construção foi replanejado.
Ayla integra um time de engenheiros em que as mulheres são maioria (9 x 8 para elas), orgulhosas por estarem à frente de uma obra que, esperam, dê muita alegria aos brasileiros. “Tem engenheiro que nasce e morre e nunca passou por um estádio de futebol”, observa Dayelly Fusari, 30, sentindo-se privilegiada. “É uma obra para o mundo”.
Em 2010, já contratada pela construtora Odebrecht para responder pelo planejamento da Arena da Copa, ela assistiu a jogos no Soccer City, em Johannesburgo, na África do Sul, e não cansava de olhar e verificar cada detalhe do estádio e de se encantar com o “espírito” de Copa.
Dayelly, que adiou um doutorado na Itália para integrar a equipe responsável pela construção do estádio, começou seu trabalho no local quando tudo era mato e solo rochoso, com muita pedra a ser explodida para dar lugar à construção.
Foram retirados 300 mil metros cúbicos de rocha – o equivalente a 109 piscinas olímpicas – em “40 eventos de desmonte”, quando toda a área e entorno foram evacuados para a colocação dos explosivos. “Não houve acidentes e nenhum tipo de problema com as comunidades nesses eventos”, destaca. “Planejamento é isso e abrange cada etapa da obra, do solo à colocação de torneiras, da compra de material à produção, tudo dentro do cronograma estipulado.”
Ayla Souza complementa, entusiasmada, que o concreto é o coração da obra e que até o final de maio deverão ser fabricados 1.800 pré-moldados entre vigas e degraus. Ela controla a chegada de todos os insumos, faz toda a programação de concreto da obra e sua aplicação. “Adoro o que faço, nasci para isso.”
Coragem. Nenhuma das moças se assusta com o desafio. Dayana Florentino, 40, responsável pelo setor de controle de qualidade, já passou pela usina nuclear de Angra 2 (RJ), pela hidrelétrica de Itapebí (BA), pelo Porto de Itaqui (MA) e pelo sistema de irrigação de Maracaibo, na Venezuela. Especialista em gestão de qualidade na construção civil, segue um ritmo pesado – cerca de 10 horas de trabalho por dia, de segunda a sábado.
Dayelly já trabalhou em Angola. Ayla, por sua vez, participou da construção da estação de tratamento d’água da Barragem de Pirapama, no município metropolitano do Cabo de Santo Agostinho.
Também não as amedronta a intensificação dos trabalhos visando à Copa das Confederações. Dayelly cansou de virar noites, sonha com a obra e, neste momento, sua vida pessoal foi relegada a terceiro plano. Só viu o noivo, que também é engenheiro e trabalha atualmente em Angola, três vezes este ano.
Diretor de contrato da Odebrecht, Bruno Dourado, que há 28 anos acompanha obras, assegura que a Arena da Copa chama atenção pelo número de mulheres. São 37 no setor administrativo. “Salta aos olhos”, afirma, ao lembrar que outra mulher, a engenheira Chyntia Melo, foi a responsável pela fundação da obra.
Obra envolve quase 2 mil trabalhadores
Distante 19 quilômetros do aeroporto internacional dos Guararapes, a Arena Pernambuco vai receber cinco jogos do Mundial em 2014: três partidas da primeira fase, uma das oitavas de final e outra das quartas de final.
Com o serviço de terraplenagem concluído e as fundações em sua fase final – 86% já executados -, a estrutura de concreto da obra está com 29% de avanço.
Os primeiros lances de arquibancada já foram montados com as peças de concreto pré-moldado fabricadas no canteiro. Hoje trabalham no local 1.917 pessoas, mas este número deve subir para 2,5 mil em fevereiro, no pico da obra.
Investimento de R$ 532 milhões, a construção e operação da Arena Pernambuco é resultado de uma Parceria Público Privada (PPP) entre o consórcio das empresas Odebrecht Participações e Investimentos e Construtora Norberto Odebrecht com o governo de Pernambuco. O financiamentos é do BNDES e do BNB.
O contrato prevê a construção do estádio e também os serviços de exploração, operação e manutenção pelo prazo de até 33 anos. A arena poderá ser adaptada à realização de shows, feiras e convenções, além de jogos. Depois do Mundial, o espaço deve se consolidar como um dos principais destinos de entretenimento do Estado e no seu entorno será construída a Cidade da Copa, um bairro planejado voltado para a classe alta. / A.L.
Fonte: O Jornal O Estado de S.Paulo