Agora que está mais fácil de retirar dinheiro do fundo, talvez seja hora de repensar se isso será mesmo um bom negócio, considerando a rentabilidade e, claro, o objetivo financeiro de cada um. Quem diria que o (FGTS), aquele que tinha rentabilidade pior que a poupança e problemas sério de liquidez (não se pode sacar a qualquer hora) ganharia algum apelo para investidores? Pois é. O jogo virou.
Com a taxa de referência de juros (Selic) a 2,25% ao ano, o rendimento antes pífio do FGTS, de 3% ao ano mais Taxa Referencial (TR) – atualmente igual a zero – já supera qualquer aplicação que pague o equivalente ao CDI ou à Selic. Isso sem contar a possibilidade de divisão dos lucros do fundo de garantia, que passou a ocorrer no mínimo parcialmente nos últimos anos.
Para se ter uma ideia, em 2019, a distribuição de 100% dos R$ 12,2 bilhões em lucro do fundo no ano anterior gerou uma rentabilidade extra de cerca de 3% ao ano. E não existe incidência de Imposto de Renda sobre o retorno do Fundo do Garantia. No total, no ano passado, o dinheiro que ficou parado no FGTS rendeu 6,18%. Na época, a Selic estava por volta de 6% e a meta de inflação girava em torno de 4%, então a pequena vantagem de retorno não era grande coisa, ao se pesar a dificuldade de acesso ao dinheiro.
Mas, agora, mesmo que o cenário mais provável se cumpra e não haja nenhuma parte dos lucros dividida entre os trabalhadores este ano, o rendimento de 3% mais TR já sai ganhando da grande maioria das aplicações de baixo risco da renda fixa. Para quem acompanha mercado há alguns anos, essa reviravolta parecia impensável.
Se você aplicar os R$ 1.045 do saque emergencial, quanto terá em 12 meses?
Aplicação | BRUTO | LÍQUIDO* |
Poupança | R$ 1.061,51 | R$ 1.061,51 |
Fundo DI com taxa zero | R$ 1.068,51 | R$ 1.063,81 |
Fundo DI com taxa 0,3% | R$ 1.065,38 | R$ 1.061,30 |
Tesouro Selic | R$ 1.068,83 | R$ 1.064,06 |
TESOURO IPCA (IPCA+2,66%) | R$ 1.091,61 | R$ 1.082,29 |
LCA/LCI com 100% do CDI | R$ 1.068,51 | R$ 1.068,51 |
FGTS | R$ 1.076,35 | R$ 1.076,35 |
Fonte: *Descontados os impostos. Cálculos de Luciana Ikedo, planejadora financeira
“Nunca imaginei que FGTS fosse ser um produto melhor que Fundo DI ou Tesouro Selic. Ele perdia pra inflação recorrentemente. Qualquer oportunidade que tinha de tirar, todo mundo corria para sacar. Agora, você fica realmente num dilema, se tira ou não tira”, afirma a consultora de investimentos da Órama e colunista do Valor Investe, Sandra Blanco.
Num fundo que renda 100% do CDI e tenha taxa zero, a rentabilidade depois dos impostos fica por volta de 1,95% em um ano, aponta Sandra. Na poupança, a coisa é ainda pior, rendendo 70% do CDI, os rendimentos ficam em meros 1,43%, mesmo com a isenção de impostos.
Todos essas aplicações perdem para inflação projetada para os próximos 12 meses, de 3,25% (que é o que prevê o mercado, conforme mostrou a última edição do Boletim Focus, do Banco Central).
Por Isabel Filgueiras, Valor Investe — São Paulo 22/06/2020 06h02