Resultado, melhor para o mês desde 2012, surpreende, pois ocorre após 4 meses de cortes; no ano, porém, saldo é negativo em 1 milhão
O mercado de trabalho registrou, em julho, o primeiro resultado positivo desde o início da pandemia. Foram criados 131.010 postos de trabalho com carteira assinada, melhor desempenho para o mês desde 2012. Indústria, construção civil e comércio tiveram os melhores resultados. No acumulado do ano, no entanto, o saldo ficou negativo em 1,092 milhão de vagas.
Após quatro meses de destruição de empregos na pandemia de covid-19, o mercado de trabalho registrou o primeiro resultado positivo em julho, com a criação líquida de 131.010 vagas com carteira assinada. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) trouxeram ainda o melhor desempenho para o mês desde 2012.
No acumulado do ano até julho, o saldo do Caged ainda ficou negativo em 1,092 milhão de vagas, o pior desempenho para o período na série histórica disponibilizada pelo Ministério da Economia (2002).
O saldo de julho é resultado de 1,043 milhão de admissões e 912.640 demissões. O volume representa um acréscimo de 14% nas contratações e uma queda de 2% nos desligamentos em relação a junho.
O presidente Jair Bolsonaro disse, no Twitter, que o mercado de trabalho no Brasil “começa a voltar à normalidade”. Já o ministro da Economia, Paulo Guedes, classificou o resultado como “extraordinário”: “O resultado mostra que retomamos o ritmo de criação de empregos.
Os dados do Caged confirmam a nossa hipótese de trabalho de que o País iria cair menos do que era previsto pelo mercado. As revisões das projeções estão confirmando que o PIB deve cair cerca de 4% neste ano, e não 10% como chegaram a prever.”
O secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Bianco, disse esperar resultados positivos crescentes nos próximos meses. “Certamente, a melhora só começou, vamos continuar surpreendendo”, disse.
Sustentabilidade. Para o professor do Departamento de Economia da PUC-RIO, José Márcio Camargo, embora a economia esteja se recuperando mais rápido do que o esperado, o mais importante será ver se haverá sustentabilidade nesse processo. “O problema é como será a trajetória a partir de agora. Se vai continuar em V ( após uma queda rápida da atividade, acontece uma alta na mesma intensidade) ou vai se amenizar”, afirmou, apontando a manutenção do teto de gastos (regra que trava o crescimento das despesas à inflação) e incertezas internacionais como os principais desafios.
Houve um saldo positivo de 53.590 contratações na indústria geral em julho. Na construção civil, foram recuperadas 41.986 vagas no mês passado. Já o comércio registrou abertura de 28.383 vagas, enquanto a agropecuária teve saldo positivo de 23.027 postos de trabalho formal. Mais uma vez, o setor de serviços teve o pior desempenho do Caged, com a eliminação de 15.948 vagas em julho.
A maior parte do mercado financeiro já esperava uma retomada do emprego no mês passado, mas o desempenho do Caged foi bem superior às estimativas dos analistas. Para o estrategista da corretora Terra Investimentos, Marco Harbich, o resultado reflete a reabertura da economia e uma melhora de confiança que encoraja o empresário a voltar a contratar. “A reação do mercado de trabalho, nessa magnitude, veio antes do que se esperava. Mas não vamos ter 200 mil vagas criadas por mês. A economia não está tão forte assim”, ponderou.
Revisões do PIB
“As revisões das projeções estão confirmando que o PIB deve cair cerca de 4% neste ano, e não 10% como chegaram a prever.”
Paulo Guedes
MINISTRO DA ECONOMIA
O Estado de S. Paulo 22 Agosto de 2020
Por: Eduardo Rodrigues
COLABORARAM VINÍCIUS NEDER E EDUARDO LAGUNA