Mansueto F. de Almeida Junior, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
Anunciado na última terça-feira, o programa Brasil Maior reuniu uma série de medidas para tentar recuperar a competitividade da indústria nacional. Mas foi criticado por analistas ao se caracterizar como um “pacotão” de medidas que buscam mais a defesa comercial do que o desenvolvimento tecnológico do país. Um deles é o economista Mansueto F. de Almeida Junior, da Diretoria de Estudos Setoriais e Inovação (Diset) do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Ele analisou, mais de perto, nove das mais de 30 medidas do plano e chegou à conclusão de que as ações não passam de uma tentativa do governo federal de ganhar tempo para ver o que vai fazer. “No mínimo, parte das medidas anunciadas deveriam ser definitivas”, diz. Confira abaixo os principais trechos da conversa com o especialista.
Você diz que o Brasil Maior é uma forma do governo de ganhar tempo para ver o que vai fazer. Mas o governo já não sabe o que fazer, não é uma questão de fazer ou não?
O que deveria ser feito
O economista Mansueto de Almeida Junior elenca quatro medidas que o governo deveria adotar para ajudar a indústria, e as dificuldades no caminho para implantar cada uma:
A receita certa, segundo o especialista
1 – Redução do “custo Brasil”.
2 – Desoneração seletiva e permanente da indústria.
3 – Aumento da produtividade da indústria.
4 – Desvalorização do real.
As pedras no caminho de cada ingrediente
1 – Onde, exatamente, forçar uma poupança e cortar gastos?
2 – Quem vai compensar essa perda de arrecadação? As commodities?
3 – Como resolver o problema da alta dos insumos e da qualificação profissional?
4 – Não é possível sem uma poupança interna boa.
Não, não sabe. Na verdade, o governo não tem recursos e tem uma estrutura de custos muito alta para resolver. Está tentando resolver problemas macro com medidas micro.
O que define essa estrutura de custos no Brasil?
Temos alguns componentes de peso, como a Previdência, uma política de correção nominal de salário mínimo e a deficiência em infraestrutura. A agenda de investimento público não consegue acompanhar a necessidade privada porque somos um país que poupa muito pouco, 17,8% do PIB, e que usa a poupança externa para crescer. Esse modelo leva à apreciação da moeda e a um crescimento que pode durar anos, mas que é incompatível com a indústria.
E no caso da indústria?
Uma tabela da Abimaq [Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos] destrincha o “custo Brasil” no setor e demonstra que 73% do custo é formado por insumos e taxa de juros sobre capital de giro. O primeiro vem muito dos oligopólios em setores, como o de minérios, por exemplo. O segundo vai continuar elevado, por conta da inflação. Poderíamos aumentar a produtividade, mas para isso temos dois problemas: nosso sistema educacional mais voltado para a universidade do que para o ensino técnico – o que eu, sinceramente, não sei se será resolvido – e a rotatividade de mão de obra, que é uma das maiores do mundo, com o empresariado investindo pouco em formação.
E há como resolver esse quadro?
Em resumo, precisamos ter uma agenda de redução de custos, menos poupança externa e mais poupança pública. O país precisa fazer um esforço de controle de gastos para ter espaço fiscal para gastar com investimentos. É a única forma de crescer com câmbio valorizado. O problema é que 70% da conta vem de gastos sociais, INSS, saúde e educação, difícieis de cortar. Uma alternativa seria dar reajustes salariais menores e segurar o funcionalismo pelos próximos quatro anos. No caso da indústria em si, temos de desonerar em definitivo alguns setores e incentivar a inovação no médio e longo prazos. O Brasil Maior trouxe algumas novidades nessa linha, mas poucas. Nosso melhor exemplo de incentivo à inovação é a Embrapa, que levou tempo, mas acabou resultando na descoberta de técnicas e sementes adaptadas à Região Centro-Oeste, o que ajudou na explosão do agronegócio brasileiro.
Fonte: Gazeta do Povo – Fabiane Ziolla Menezes